Essa frase do título (em forma de pergunta), foi dita por John Lennon em uma entrevista e recentemente circulou dentro do discurso de um famoso e mal fadado pastor (que vem causando muita polêmica em muitas coisas).
A questão é que, um pacifista e humanista, como é o caso de Lennon, foi condenado ao inferno, pois teria levado três tiros: "em nome do pai, em nome do filho e em nome do espírito santo", justamente por ter dito a tal frase.
A fala de John Lennon é famosa e eu conhecia fazia tempos... mas isso me incomodou. Não por ela ter sido dita, nem mesmo pela fala do pastor, mas pela inconsequente contextualização que se faz, sempre que se quer justificar a morte (ou o fim da banda).
Procurei algumas referências para entender melhor o que se passava no momento da declaração, pois acreditar que alguém com a inteligência a o espírito pacífico de Lennon, não diria algo assim para se vangloriar ou para arrumar caso.
Encontrei esse material e achei muito interessante.
Reproduzo aqui:
O que Lennon disse, quando entrevistado por Maureen Cleave foi:
►"O cristianismo vai passar. Vai afundar e desaparecer. Não há necessidade de discutir esse assunto. Estou certo disso, e o tempo é que vai provar. Somos hoje mais populares do que Jesus. Eu não sei qual desaparecerá primeiro, se o rock and roll ou se o cristianismo. Jesus era ok, mas seus discípulos eram pessoas estúpidas e comuns. É a deturpação feita por eles que, para mim causa todo o estrago."
→Para mim a única interpretação provável disto é que:
1)Lennon não se colocou como mais importante do que Jesus, disse que naquele momento eram mais populares. [E pela frequência em que estampavam as manchetes dos jornais de todo o mundo não disse nada de absurdo. Alguém duvida de que aquela juventude conhecia e se interessava muito mais pelos Beatles ou por qualquer outra coisa do que pela religião?
2)Lennon não criticou a religião, mas a deturpação de valores feita por seus discípulos. E neste aspecto eu não deixo de concordar com ele.
Quando a entrevista foi publicada na Inglaterra não gerou polêmica alguma. Apenas meses depois, quando a Datebook, uma revista americana de fofocas, estampou na capa "John Lennon diz que os Beatles são mais populares do que Jesus" e dedicou algumas páginas com abordagem sensacionalista ao assunto é que a polêmica estourou. As canções do grupo foram vetadas em diversas estações de rádio e alguns lideres cristãos coagiram seu fiéis a queimar os discos. [Diz-se que isto tornou-se uma espécie de piada entre os Beatles, uma vez que para queimar os discos as pessoas teriam de comprá-los]
A jornalista Maureen Cleave era admiradora do grupo e já os acompanhava há algum tempo (e, dizem, viria a ter um caso com Lennon). Quando viu as proporções que a entrevista estava adquirindo, logo colocou-se a fazer declarações a imprensa (até Epstein pedir que ela se abstivesse de fazer mais comentários sobre):
►"Ele não pretendia se vangloriar da fama dos Beatles e, certamente, John não compara os Beatles a Cristo. Ele observara apenas que a situação do cristianismo estava tão precária que, para muitas pessoas, os Beatles eram mais conhecidos".
O comunicado oficial de Brian Epstein, empresário do grupo, à imprensa:
O comunicado oficial de Brian Epstein, empresário do grupo, à imprensa:
►"A citação das declarações que John Lennon fez a uma colunista de Londres há quase três meses tem sido realizada e reapresentada totalmente fora de contexto. Lennon tem profundo interesse em religião. O que ele queria dizer era que estava surpreso com o fato de que, durante os últimos cinquenta anos, a Igreja Anglicana, e, portanto, Cristo, sofreu um declínio de interesse. Ele não pretendia se vangloriar da fama dos Beatles. Queria apenas enfatizar que os Beatles pareciam, em sua opinião, exercer maior impacto sobre a geração mais nova"
Quase um ano depois, quando o grupo voltou aos EUA para a turnê de Revolver, John declarou à imprensa:
Quase um ano depois, quando o grupo voltou aos EUA para a turnê de Revolver, John declarou à imprensa:
►"Se eu tivesse dito que a televisão era mais popular do que Jesus, teria passado batido. Estou arrependido de ter aberto a boca. Eu só estava conversando com uma amiga e usei o nome 'Beatles' como uma coisa distante, como os outros nos vêem. comentei que o conjunto tinha mais influência sobre os jovens do que que qualquer outra coisa, inclusive Jesus. Eu disse aquilo dessa forma, e a forma como eu a disse é que estava errada. Não sou contra Deus, nem contra Jesus, tampouco anti-religioso. Não estava criticando nada. Não estava afirmando que somos maiores ou melhores. Acho que é besteira, se não gostam de nós, por que simplesmente não deixam de comprar nossos discos?"
Bom, parece que mesmo décadas depois existem pessoas que se limitam a entender de tudo isso apenas um "ele se julga maior do que Jesus Cristo". Me parece apenas mais da mesma "deturpação".
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Bom, parece que mesmo décadas depois existem pessoas que se limitam a entender de tudo isso apenas um "ele se julga maior do que Jesus Cristo". Me parece apenas mais da mesma "deturpação".
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Fonte(s):
Citações extraídas de
SPITZ, Bob. Tempestade Em Copo De Água. In: SPITZ, Bob. The Beatles: A Biografia. São Paulo: Larousse, 2007. Cap. 30, p. 622-628.
SPITZ, Bob. Tempestade Em Copo De Água. In: SPITZ, Bob. The Beatles: A Biografia. São Paulo: Larousse, 2007. Cap. 30, p. 622-628.
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