quarta-feira, 8 de abril de 2015

Baihuno Paulista

Já que o tempo fez-te a graça de visitares o Sul (Sudeste Interior), leva notícias de mim.
Diz àqueles da província que já me viste a perigo: na cidade grande enfim.
Conta aos amigos doutores que abusadamente estou tentando também. E que aqui, na academia digladiando, esperava menos lutas, menos egos, menos amém...
São por fim os mesmos bárbaros e sou quase um deles, mas eles não aceitam. Ainda (bem).
Ah! metrópole violenta que extermina os miseráveis, negros párias, teus meninos!
Mais uma estação no inferno, Babilônia, Dante eterno! Fujo sempre que possível. Há sim, outros destinos.
Conta àquela namorada que assim como com ela, não deu certo com ninguém.
Culpa minha, mais que tudo. Culpa dela, da outra, da próxima (menos, cada vez menos).
E, no que toca à, família, dá-lhe um abraço apertado, que a todos possa abarcar.
Fora-da-lei, procurado, me convém e necessito, família unida contra quem me rebelar.
Se cair no futebol, dói. Ainda dói. Mas dói menos que antes.
O prazer de uma vitória, ficou menor. O prazer de uma cerveja, maior. Avisa ao vô que nada mudou, mas que o coração cansou o lado branco, o preto ganhou.
Já que o tempo fez-te a graça de visitares a tua terra natal, que é minha, leva noticias de mim.
O mundo incerto está se acertando, é bom demais para ser verdade. Por isso mesmo, não é.
Das facilidades tão difíceis da juventude, não sinto falta, nem pena. Triste ver o quanto muitos se apegam, ao pequeno prazer que um passado ruim não é capaz de dar.
Ah! quem precisa de heróis? Os que eram referência, são os que mais decepcionam. Vida segue por aqui, estaciona por aí.
A torcida da desgraça, a ignorância sobre os prazeres. Me acham sofrido, desdenham os dizeres.
De onde vem essa dureza? Na ponta do dedo da certeza, de fracasso pessoal. Quem me importo? Eu que sim.
Ao padre meu amigo, aquele primeiro, querido, não se importe em dar recado. Ele já sabe que de santo eu tenho um bocado. Ele sabe que de longe, sou mais útil que de perto. Continuo buscando, sem sorte em encontrar, o que está tão escondido, aqui na minha frente.
Calma que não sou caso perdido, até tentei, mas não fui bem sucedido
- Não vendi a alma ao diabo... O diabo viu mau negócio nisso de comprar a minha.
Se meu pai, se minha mãe se perguntarem, sem jeito - Onde foi que a gente errou?
Responda sem cerimônias, que só de acertos eles vivem. Que um dia eu volto. Que as dúvidas evitem. E que nunca foi tão grande a vontade de ser parecido. Mando desculpas pela feliz ausência.
Para o restante curioso, mande um salve bem genérico. Não me incomoda, só bem muito.

O rinoceronte é mais decente do que essa gente demente do Ocidente tão cristão.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Um livro para unir o Batman e a Educação



Tirando a poeira do MCB. 

No mês de abril fez 6 meses do lançamento do livro EDUCAÇÃO E VIOLÊNCIA NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS DE BATMAN e por isso eu quero falar do livro.


"aaaaah sério isso?"

É claro que não vou falar do livro fazendo uma resenha ou qualquer coisa do tipo, não é propaganda de mim mesmo. Quem me conhece, ao menos um pouco, sabe que eu não sou desses (sabe desses?).

O que farei é falar da experiência do próprio livro, acho que todos entenderão.

Pra começar, o material do livro é inédito, isso por que foi retirado da minha dissertação de mestrado (2009-2011), que foi uma pesquisa bibliográfica e empírica, com bases científicas, realizada na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) pelo Programa de Pós Graduação em Educação (PPGE). 

Quase tudo do livro estava na pesquisa, então foi publicado como dissertação, defendido, avaliado, rotulado, carimbado, pluft, plaft e zum.

Mas aí é que aparece mesmo o livro.
Através da Pró Reitoria de Extensão da UFPE (a PROEXT), surgiu a possibilidade de publicação da pesquisa. Publicar a pesquisa poderia ser só reproduzir a mesma coisa em um livro, mas não era o que eu queria. Então não foi assim.

Com o material bruto, comecei a trabalhar a ideia de um livro que fosse possível de ser lido.
Sabendo de minhas limitações como escritor e, especialmente, sabendo do quanto é chato ler pesquisas científicas, fiz um esforço para adaptar a dissertação realmente em formato de livro. Isso fez com que algumas coisas saíssem. A linguagem científica foi trocada por uma "conversa" e as minhas impressões puderam entrar de maneira mais livre.

O legal é que isso foi muito divertido! Foi ótimo fazer. Digo, o esforço de fazer a pesquisa ficar menos chata, a ideia de pensar alguém lendo (ou eu mesmo lendo) e como isso poderia ser melhor. Criei uma sequência para o livro:

Uma introdução contando sobre o livro, sobre mim e sobre os leitores que entrevistei na pesquisa - e um pouco sobre a metodologia;
Um primeiro capítulo falando só sobre Histórias em Quadrinhos - história, algumas curiosidades, o surgimento dos super-heróis e Batman!
O segundo capítulo fala das HQs em sua relação com a Educação;
E o terceiro fala das HQs em relação com a Violência;
Aí termina com as considerações finais e pronto.

Então eu pensei que isso poderia ser lido por qualquer um, mesmo alguém que não fosse especialista em quadrinhos ou educação.



Pretensiosamente eu fiz contato com um dos maiores pesquisadores de Histórias em Quadrinhos do Brasil, o professor Waldomiro Vergueiro, da USP, pedindo que ele fizesse o meu prefácio. Não criei muitas expectativas, esperei até um "não, estou muito ocupado", mas veio um "sim, será um prazer!" - isso já foi muito massa mesmo!

E então eu esperei também por um prefácio bem "técnico". Esperava até críticas e estava pensando em como teria que publicar um prefácio questionando a qualidade do trabalho (mas teria de publicar)... aí recebi um dos maiores elogios da minha trajetória acadêmica!

O prefácio do Prof. Waldomiro me deixou muito feliz e confiante. Reproduzo algumas de suas palavras:


"...só posso saudar este livro como uma valiosa contribuição para os estudos de quadrinhos e, especialmente, para a análise do impacto da leitura das aventuras dos super-heróis nos leitores. Mas, mais que isso, Batmaníacos em geral – e somos legião pelo Brasil afora –, receberão esse livro com muita satisfação. É sempre um prazer encontrar alguém que encara com seriedade e sem preconceitos um personagem que nos encanta de uma forma tão especial, como só o Cavaleiro das Trevas consegue fazer."

Isso foi muito legal! Imaginem só minha cara?

Eu também entreguei o livro para meu orientador ler, para que ele fizesse aquele texto da "orelha do livro". O professor José Luis Simões, um grande amigo, não é um leitor de HQs, mesmo assim topou me orientar nesse tema tão complicado para a academia (por preconceito dos pesquisadores "sérios" e também por conta de terem poucos trabalhos na Educação). Ele me enviou essas palavras:

"A pesquisa de Fábio publiciza sua criatividade, inteligência e capacidade analítica, ao investigar um universo que faz parte do cotidiano de milhões de brasileiros: o mundo das Histórias em Quadrinhos. (...) Estamos diante de um trabalho original e que agrega um novo objeto de estudos."

Olha aí! Não sou eu quem tô dizendo!

"pohããããããn se isso é tá na pior!"
                       


Tá, mas e aí?
O livro foi impresso com uma capa muito legal feita pelo meu amigo Rodrigo Fogo (da LogoByFogo)!


Capa do Livro do Batman



Fiz alguns lançamentos onde (re)encontrei muitos amigos e vendi alguns livros. Isso também foi muito bacana, porque eu ganhei dinheiro  porque pessoas estão lendo o livro! Aí entram as coisas mais bacanas que têm acontecido relacionadas a esse trabalho: o retorno de quem leu.

As pessoas mais próximas têm respondido e me falado do livro, várias delas disseram coisas bastante interessantes. 

Várias dizem que ao lerem conseguem perceber meu jeito de falar na escrita, como se ao lerem pudessem me ouvir "contando" a história do livro. 

Também recebi comentários sobre a facilidade em ler, pessoas que terminaram a leitura em pouco tempo, porque conseguiram seguir de maneira prazerosa pela leitura.

Alguns passaram a mensagem de que conseguiram entender todas as teorias apresentadas, o que é sem dúvida uma das coisas mais fantásticas para uma pesquisa científica, que conseguiu chegar até as pessoas de maneira tranquila.

E o mais comum (e para mim mais legal), são pessoas dizendo que não faziam ideia de como o Batman podia ser interessante! Pensem bem, estamos falando de um dos personagens mais antigos e expostos no mundo, publicado e reproduzido em tudo no mundo todo. Mesmo assim as pessoas leem o meu livro o "descobrem" o Batman! Isso é uma honra para mim.

Batman feliz :)


Na verdade, tem sido uma honra. É muito legal que as pessoas ainda estão procurando o livro e comentando sobre ele. 

É um livro com muitas limitações, com um escritor inexperiente, uma editora local e acadêmica (apesar de ser muito respeitada), uma tiragem pequena, nenhuma negociação com grandes livrarias e sem nenhum grande promotor de vendas (e eu sou péssimo nisso). Também não é minha fonte de renda a venda de livros, então doei uma grande parte da tiragem (para bibliotecas e pessoas que se mostraram interessadas).
Mesmo assim, acredito ser mesmo muito legal o que aconteceu por conta dele.

Realmente tenho muito orgulho do "livro do Batman". Nem me importo que me chamem de "o cara do livro do Batman".

Se por acaso você quiser ler, fala comigo que eu sei onde vende! :)

EDUCAÇÃO E VIOLÊNCIA NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS DE BATMAN
1ª edição - 2013
Editora Universitária UFPE
PAIVA, F. S.

Lançamento em Piracicaba/SP



Links sobre o livro:

Lançamento na Bienal do Livro de PE

HQ Maniacs

Leia Já

Jornal de Piracicaba

LiterAD

Quadro a Quadro

EPENN



segunda-feira, 17 de junho de 2013

o que queremos? e no que vai dar esse barulho todo?

Não sei o quanto conseguirei contribuir escrevendo aqui essas informações, mas apesar do cansaço de hoje, preciso fazer isso. Espero que isso possa ajudar e chegar a mais pessoas.

Já está claro que as manifestações não são por 20 centavos (nem por 40 se quiser considerar ida e volta).
Mas afinal é por que?
Tenho certeza de que muita gente não sabe e muita gente que está na rua não sabe. Mais ainda, têm muita gente se perguntando em que vai dar isso tudo.

Pois bem. Ao menos para mim isso é muito maior mesmo.
Não é por transporte público de qualidade, mas é também.
Não é contra governos, mas é também.
Não por uma bandeira individual, mas é também.

Por que tanta gente foi para a rua hoje (17/06) e está se programando para ir novamente (18, 19 e 20/06)?
É por que existe muita indignação, muito sentimento de "nada foi feito" e de "nada mudou".
Oras, sabemos que para a maioria da população brasileira a situação melhorou. O consumo aumentou e o acesso a alguns serviços (como é o caso do ensino superior) está possível.

Mas por que o número de parques públicos diminui e o de shopping centeres aumenta?
Por que o transporte público piora e a compra de carros é facilitada?
Por que as vagas no ensino público aumentam e o salário dos professores diminui?
Por que a violência aumenta?
Por que os mais pobres ainda sofrem tanto?

É por que o motivo as coisas mudam pouco em um sistema como esse.
Qual sistema?
O que vivemos e mantemos. Nesse sistema as grandes empresas exploradoras da SUA mão de obra investem nas campanhas de políticos (TODOS/AS) e por isso pedem de volta favores.
Esses favores são vistas grossas a coisas erradas (ou a serviços desumanos), são acenos de muita verba pública (que é dinheiro NOSSO) e autorização para usar a polícia como leões de chácara.

Essas grandes empresas incluem os grupos de comunicação. Elas estão CONTRA NÓS.
E os governos, por conta de acordos realizados antes das eleições, estão a favor delas (e CONTRA NÓS).

Então não adianta esse discurso de "é preciso mudar também na hora de votar". Isso não cola mais. Especialmente depois de décadas escolhendo o MENOS PIOR.
É preciso mudança de verdade.

Então, aponto aqui o que imagino ser uma pauta minimamente coerente para se levar adiante (em ordem aleatória e não de importância ou urgência):



-Reforma política com financiamento público de campanha;




-Reforma urbana que democratize e DEVOLVA a cidade a seus verdadeiros donos (o POVO), tirando da mão de grandes construtoras e especuladores;

-Reforma agrária para que se acabe de vez com o latifúndio nesse país e cessem as mortes no campo e a fome;

-Criação da Lei de Mídias (ou de Meios de Comunicação), retomando concessões e distribuindo investimentos de maneira a quebrar monopólios ou grandes grupos que trazem desinformação.

Isso mudaria o Brasil. Tirar um governo para por outro menos pior não resolve.
Vandalismo também não resolve.

Mas pressão e INFORMAÇÃO SEGURA (consciência ou ideologia, chamem do que quiserem) resolvem muito.
E é possível! Quem me conhece sabe o quanto acredito em um país diferente, justo e melhor. Quem me conhece mais sabe que eu sempre defendi a força e a vontade do povo Brasileiro.
Nós podemos. E se não nós, quem?

Nos vemos na rua.
E será uma satisfação.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

os Beatles são mais populares que Jesus?


Essa frase do título (em forma de pergunta), foi dita por John Lennon em uma entrevista e recentemente circulou dentro do discurso de um famoso e mal fadado pastor (que vem causando muita polêmica em muitas coisas).

A questão é que, um pacifista e humanista, como é o caso de Lennon, foi condenado ao inferno, pois teria levado três tiros: "em nome do pai, em nome do filho e em nome do espírito santo", justamente por ter dito a tal frase.

A fala de John Lennon é famosa e eu conhecia fazia tempos... mas isso me incomodou. Não por ela ter sido dita, nem mesmo pela fala do pastor, mas pela inconsequente contextualização que se faz, sempre que se quer justificar a morte (ou o fim da banda).

Procurei algumas referências para entender melhor o que se passava no momento da declaração, pois acreditar que alguém com a inteligência a o espírito pacífico de Lennon, não diria algo assim para se vangloriar ou para arrumar caso.

Encontrei esse material e achei muito interessante.
Reproduzo aqui:


O que Lennon disse, quando entrevistado por Maureen Cleave foi:

►"O cristianismo vai passar. Vai afundar e desaparecer. Não há necessidade de discutir esse assunto. Estou certo disso, e o tempo é que vai provar. Somos hoje mais populares do que Jesus. Eu não sei qual desaparecerá primeiro, se o rock and roll ou se o cristianismo. Jesus era ok, mas seus discípulos eram pessoas estúpidas e comuns. É a deturpação feita por eles que, para mim causa todo o estrago."

→Para mim a única interpretação provável disto é que:

1)Lennon não se colocou como mais importante do que Jesus, disse que naquele momento eram mais populares. [E pela frequência em que estampavam as manchetes dos jornais de todo o mundo não disse nada de absurdo. Alguém duvida de que aquela juventude conhecia e se interessava muito mais pelos Beatles ou por qualquer outra coisa do que pela religião?

2)Lennon não criticou a religião, mas a deturpação de valores feita por seus discípulos. E neste aspecto eu não deixo de concordar com ele.

Quando a entrevista foi publicada na Inglaterra não gerou polêmica alguma. Apenas meses depois, quando a Datebook, uma revista americana de fofocas, estampou na capa "John Lennon diz que os Beatles são mais populares do que Jesus" e dedicou algumas páginas com abordagem sensacionalista ao assunto é que a polêmica estourou. As canções do grupo foram vetadas em diversas estações de rádio e alguns lideres cristãos coagiram seu fiéis a queimar os discos. [Diz-se que isto tornou-se uma espécie de piada entre os Beatles, uma vez que para queimar os discos as pessoas teriam de comprá-los]

A jornalista Maureen Cleave era admiradora do grupo e já os acompanhava há algum tempo (e, dizem, viria a ter um caso com Lennon). Quando viu as proporções que a entrevista estava adquirindo, logo colocou-se a fazer declarações a imprensa (até Epstein pedir que ela se abstivesse de fazer mais comentários sobre):
►"Ele não pretendia se vangloriar da fama dos Beatles e, certamente, John não compara os Beatles a Cristo. Ele observara apenas que a situação do cristianismo estava tão precária que, para muitas pessoas, os Beatles eram mais conhecidos".

O comunicado oficial de Brian Epstein, empresário do grupo, à imprensa:
►"A citação das declarações que John Lennon fez a uma colunista de Londres há quase três meses tem sido realizada e reapresentada totalmente fora de contexto. Lennon tem profundo interesse em religião. O que ele queria dizer era que estava surpreso com o fato de que, durante os últimos cinquenta anos, a Igreja Anglicana, e, portanto, Cristo, sofreu um declínio de interesse. Ele não pretendia se vangloriar da fama dos Beatles. Queria apenas enfatizar que os Beatles pareciam, em sua opinião, exercer maior impacto sobre a geração mais nova"

Quase um ano depois, quando o grupo voltou aos EUA para a turnê de Revolver, John declarou à imprensa:
►"Se eu tivesse dito que a televisão era mais popular do que Jesus, teria passado batido. Estou arrependido de ter aberto a boca. Eu só estava conversando com uma amiga e usei o nome 'Beatles' como uma coisa distante, como os outros nos vêem. comentei que o conjunto tinha mais influência sobre os jovens do que que qualquer outra coisa, inclusive Jesus. Eu disse aquilo dessa forma, e a forma como eu a disse é que estava errada. Não sou contra Deus, nem contra Jesus, tampouco anti-religioso. Não estava criticando nada. Não estava afirmando que somos maiores ou melhores. Acho que é besteira, se não gostam de nós, por que simplesmente não deixam de comprar nossos discos?"

Bom, parece que mesmo décadas depois existem pessoas que se limitam a entender de tudo isso apenas um "ele se julga maior do que Jesus Cristo". Me parece apenas mais da mesma "deturpação".

.

Fonte(s):

Citações extraídas de

SPITZ, Bob. Tempestade Em Copo De Água. In: SPITZ, Bob. The Beatles: A Biografia. São Paulo: Larousse, 2007. Cap. 30, p. 622-628.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

under pressure...



noite mal dormida e as 6h em pé.
banho tomado, volto pra cama.
telefone toca. de novo. de novo.

9h. sem dormir nem mover.
tv, sono, tv, internet.

14h. a fome se resolve com dois doces.
sono.

tem bons filmes no cinema.
o horário é legal.
o horário passa.
tem outro depois, dá pra ir.
o horário passa.
ao menos sair de casa jantar. algum bom restaurante.
algum restaurante perto.
um supermercado pra uma sopa.

19h. alguém me espera na porta.
um homem em um carro. ele olha pra mim.
acho que ele não tem motivo pra me matar, mas nunca se sabe.
aperto o passo, olho para trás.
não, ele não me segue, eu acho.

depois da sopa preciso de algo.
rodo prateleiras do supermercado pra saber do que preciso.
não preciso de nada.

21h. na rua, voltando.
barulho em uma igreja evangélica.
é uma universal do reino de deus.
alguns segundos na porta. tenho vontade de entrar.
mas passa.

volto pra casa.
volto pra cama.
2h. dormir até as 6h.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Qual seu medo?

Medo! Você tem, certo? Todo mundo tem!
Mas do que?

As vezes ouço algumas pessoas tratando o medo de forma subjetiva, ou quase. Quando por exemplo alguém diz: "Tenho medo do futuro..."
É comum e até justificável, mas é estranho.


Fiz uma busca no Wikipédia pesquisa sobre o assunto e uma definição de medo é essa aqui:
medo é uma sensação que proporciona um estado de alerta demonstrado pelo receio de fazer alguma coisa, geralmente por se sentir ameaçado, tanto fisicamente como psicologicamente.
Quer dizer, o medo mesmo é só aquele cagaço básico!
O medo é a sensação... Então como é que as pessoas sentem medo de coisas tão impalpáveis? Sentem a "sensação" e o "estado de alerta" para isso?

Bom, eu quis falar sobre isso porque sou um cara muito medroso. Sigo vivendo a filosofia do "mais vale um covarde vivo do que um herói morto". Há!

Mas, já me arrisquei muito, especialmente nessas situações mais abstratas... Mudanças, lembranças, futuro, carreira, relacionamentos, família... Mas nunca tive medo disso tudo, eu acho.

Tenho a impressão que a insegurança ou a incerteza não são medos, mas só receios ou mesmo desejos mesmo. Vontade de que dê certo, ou vontade de que não dê errado.

Mas medo mesmo, é mais perceptível né?
Eu tenho muitos!


É por tentar evitar o medo que eu não vejo filme de terror quando vou dormir sozinho, por exemplo. AHAHA (é sério!)

Mas, de toda forma, me lembro de uma história bem bacana...

Um dia uma professora perguntou aos seus alunos do que eles tinham mais medo.
Entre as respostas, apareceram monstros, lugares escuros, animais...
Até que um menino disse: "Tenho medo do MALA MAN"

Mas o que? Que porra é essa? - a professora deve ter pensado isso, mas falou:

O que é isso?
E o menino respondeu: "Não sei professora, mas eu tenho muito medo. Toda noite ouço minha mãe rezando e no final ela sempre pede: Livrai-nos do MALA MAN"

Pois então, o medo é daquilo que não sabemos o que é. O desconhecido é mesmo assustador...

É, dá pra ter medo do futuro sim.

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é uma satisfação.
Desejo um 2013 com poucos medos.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

A Greve da Universidade Federal de Pernambuco - Greve Nacional (tivemos vitória ou derrota?)




A meu ver, a greve teve muitas vitórias, sobretudo políticas. Falo sobre contextualizando.

Antes de ser deflagrada, o governo fez um esforço para matá-la antes de nascer e deu um aumento de 4% aos/as professores/as. Aumento esse, acordado com o Sindicato Nacional um ano antes. 

Nesse contexto muitos/as nem acreditavam que a greve pudesse ocorrer. 

Mesmo assim, em uma Assembleia histórica ela foi deflagrada, com o apoio da Direção Sindical local. O Comando Local de Greve foi instalado e funcionou muito bem. A UFPE teve papel protagonista em todos os momentos, tendo um dos comandos mais ativos de toda a greve nacional. Fomos uma das únicas Associações de Docentes (ADs) a enviar e manter dois delegados no Comando Nacional todos os dias de greve, fomos o Comando de Greve com mais atividades (atos, palestras, debates, protestos e até confraternizações).
No momento em que muitos não sabiam da Greve e não queriam, a luta fez com que soubessem, debatessem, se inteirassem. Ganho político.

O Brasil debateu a Educação superior (em todas as suas formas e possibilidades) durante mais de 100 dias. Em cada Universidade a academia voltou suas atenções para si e pode se reconhecer. Ganho político.


Havia, antes de greve, uma clara divisão de entendimento da Universidade (ao menos na nossa AD), onde professores/as novos/as e antigos/as estavam em duas batalhas distintas. A greve unificou o movimento, nos deu algo para lutar juntos. Isso não existia desde a greve de 2005. Muitos/as achavam que isso estava morto.
A luta unificou professores/as, estudantes e todas as Universidades Federais. E para muitos não teríamos mais greves (e quase tivemos uma greve geral no país). Tenho certeza de que qualquer governo (mesmo esse), vai pensar duas vezes quando se ameaçar uma outra greve. Esse instrumento de luta ressurgiu nas Universidades (e em vários outros setores). O governo sentiu o golpe, se não fosse isso, não teria pedido trégua, não teria mudado sua própria proposta.

Pois bem, a tal proposta. É bem ruim mesmo. Tem poucas mudanças de carreira e pouco se avançou nos ganhos salariais gerais. 

Pontualmente a proposta oferece ganhos significativos: como a mudança de regra para professor/a titular, aumentos de 25% a 40% e aumentos maiores em caso de titulação. Se considerarmos os 4% dados antes, sendo esses acumulados, teremos quase 30% de reajuste em 3 anos, isso significa a reposição da inflação e mais um pouco a cada ano. Os/as professores/as titulares terão quase 50% de aumento em 3 anos. 

Isso é o que entrará em vigor se nada mudar. Esse é o acordo assinado pelo PROIFES (Fórum dos Professores de Instituições Federais do Ensino Superior - sindicato pouco representativo que queria acabar com a greve antes).

Devemos perceber que, apesar de ser bastante ruim, foi a nossa luta que fez com que chegássemos a esses patamares!

Os/as técnicos/as administrativos/as fizeram um acordo de 15% para 3 anos. Tirando os/as militares, os/as professores/as foram os únicos a terem diferenciais em seus acordos.
Repito, isso está longe de ser bom, mas o fato de um governo que queria dar o mínimo não fazer isso, foi por conta da luta! Isso é ganho!

O nosso Sindicato Nacional, o ANDES (Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior - Sindicato Nacional), não assinou a proposta! Nosso Sindicato Local, a ADUFEPE (Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pernambuco), tampouco! 

Não há nada disso de que "estamos amarrados ou presos por 3 anos". Não houve acordo ainda.
Obviamente isso se deu pela intransigência do governo, sua truculência, falta de negociação, entre tantos outros adjetivos que ficamos familiarizados nessa luta.

Mas e o fim da greve? Pois bem. Acabou sem acordo. O acordo assinado pelo PROIFES se estenderá a todos/as caso nada mude. Mas pode mudar. O Comando Nacional de Greve e a Direção do ANDES está orientando a continuação da luta em outros "front".

O projeto de lei foi para o Congresso e nosso Sindicato (Nacional e Local) está mobilizado para pressionar e debater com Deputados e Senadores. Essa é a primeira ação.
O segundo é o "alerta ligado". As Universidades continuarão os debates e, se preciso, com paralisações. Fizemos algumas antes da greve e podemos fazer outras, locais e nacionais.

Resumindo, a luta ainda está acontecendo e deve ser levada, de uma outra forma agora.

E por que o fim da greve nessa Assembleia do dia 05/09? 
A UNB já tinha saído da greve, a UFRJ também. Fora essas duas a UFPE fica sendo a maior representação sindical.

O Comando Nacional de Greve Estudantil foi dissolvido, a FASUBRA (Federação de Sindicatos de Trabalhadores em Educação das Universidades Brasileiras) já havia saído da greve e o SINASEFE (Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica) havia indicado o dia 10/09 para sua saída.

O Comando Nacional de Greve apontou a saída (apontou a SUSPENSÃO UNIFICADA) e a UFPE decidiu não sair no mesmo dia,(no dia 05) mas ter um tempo para que outras ADs pudessem sair em bloco (por isso decidiu pelo dia 17). 

Não é uma correria do pelotão, mas um recuo da tropa toda. A retirada de uma batalha, para se refazer, rediscutir estratégias e perseverar. 

Com a saída das duas maiores e mais outras tantas, o caráter nacional da greve já havia se partido. O projeto de lei já havia sido enviado pelo governo ao congresso e por conta disso não havia mais nenhuma possibilidade de pressão sobre o governo.

Sair de cabeça erguida, com disposição para permanecer na luta, é mais um ganho político. Saber que a luta da greve nos motivou, mobilizou e nos uniu. 

Vi criticas e posicionamentos diferentes, eu respeito. Mas, por favor, vamos ter consciência de quem ouvimos e do que levamos em conta. Ter opiniões diferentes é uma coisa, ter opinião sem parâmetro é outra.

Vejam só, durante a Assembleia em que a greve foi encerrada, estava acontecendo o JUBRA (Simpósio Internacional da Juventude Brasileira), que ocupou os auditórios diversos da UFPE, restando o CTG (Centro de Tecnologia e Geociências) ou a Concha Acústica (que é ao ar livre), a Assembleia foi a tarde, as 14h. Que auditório deveria ser escolhido?
O local para a realização da mesma foi debatido no Comando Local de Greve, que é quem toma as decisões para tanto. Não foi inventado de última hora ou feito às escuras. Qual seria a decisão a ser tomada? Dizer que a escolha foi manipulação? Por que? O CTG faz parte da Universidade, por que ter medo de lá?

Sobre o Comando Local de Greve, do qual participei intensamente, éramos no máximo 20 pessoas, em dias de reuniões lotadas, tendo reuniões com 3 ou 4 pessoas. Onde estavam todos/as os/as professores/as em greve?

Ao sair do auditório do CTG eu ouvi umas pessoas falando que quem tinha acabado com a greve eram os/as professores/as que estavam nos seus gabinetes e nunca participavam de nada. Pois bem, isso é direito deles/as, mas, vamos adiante. 

A greve foi deflagrada com 221 votos. Onde estavam os/as 201 professores/as (descontando os/as 20 do Comando Local) grevistas durante TODA a greve? Podem procurar saber, além de Assembleias, não houve adesão de colegas para a AÇÃO! Confiram nas fotos das ações no site da ADUFEPE, vocês todos/as verão como as pessoas se repetem sempre. Ou seja, alguns/as poucos/as carregaram todas as ações da greve nas costas. 
Os/as professores/as que votavam pela continuidade da greve exerciam o mesmo direito dos/as outros/as, mas em uma direção diferente.

Outro argumento é que, em greve, os/as professores/as podiam participar de atos e podiam pressionar sem se preocupar com aulas ou outras coisas. Sinceramente, eu estou na luta muito antes da greve. Sou sindicalizado e atuante e não vai ser por estar na sala de aula que vou deixar de lutar. A greve foi uma forma de luta e não abandonarei as outras. Conheço muitos/as como eu. Infelizmente esses/as "muitos/as" ainda são uma minoria.

Acredito sim que a greve foi vitoriosa e que saímos na hora certa e de cabeça erguida! Foi a maior Assembleia da história do nosso Sindicato!

Não dá pra considerar argumentação de gente que não participou de quase nada, que não sabe como estava o contexto da Greve Nacional e que, em muitos casos, queria a greve até o ano que vem ou mais, por qualquer motivo.

Nossa luta, nossa atuação política e nossa resistência não se resumem a greve. É isso.

Satisfação.