A meu ver, a greve teve muitas vitórias, sobretudo políticas. Falo sobre contextualizando.
Antes de ser deflagrada, o governo fez um esforço para matá-la antes de nascer e deu um aumento de 4% aos/as professores/as. Aumento esse, acordado com o Sindicato Nacional um ano antes.
Nesse contexto muitos/as nem acreditavam que a greve pudesse ocorrer.
Mesmo assim, em uma Assembleia histórica ela foi deflagrada, com o apoio da Direção Sindical local. O Comando Local de Greve foi instalado e funcionou muito bem. A UFPE teve papel protagonista em todos os momentos, tendo um dos comandos mais ativos de toda a greve nacional. Fomos uma das únicas Associações de Docentes (ADs) a enviar e manter dois delegados no Comando Nacional todos os dias de greve, fomos o Comando de Greve com mais atividades (atos, palestras, debates, protestos e até confraternizações).
No momento em que muitos não sabiam da Greve e não queriam, a luta fez com que soubessem, debatessem, se inteirassem. Ganho político.
O Brasil debateu a Educação superior (em todas as suas formas e possibilidades) durante mais de 100 dias. Em cada Universidade a academia voltou suas atenções para si e pode se reconhecer. Ganho político.
Havia, antes de greve, uma clara divisão de entendimento da Universidade (ao menos na nossa AD), onde professores/as novos/as e antigos/as estavam em duas batalhas distintas. A greve unificou o movimento, nos deu algo para lutar juntos. Isso não existia desde a greve de 2005. Muitos/as achavam que isso estava morto.
A luta unificou professores/as, estudantes e todas as Universidades Federais. E para muitos não teríamos mais greves (e quase tivemos uma greve geral no país). Tenho certeza de que qualquer governo (mesmo esse), vai pensar duas vezes quando se ameaçar uma outra greve. Esse instrumento de luta ressurgiu nas Universidades (e em vários outros setores). O governo sentiu o golpe, se não fosse isso, não teria pedido trégua, não teria mudado sua própria proposta.
Pois bem, a tal proposta. É bem ruim mesmo. Tem poucas mudanças de carreira e pouco se avançou nos ganhos salariais gerais.
Pontualmente a proposta oferece ganhos significativos: como a mudança de regra para professor/a titular, aumentos de 25% a 40% e aumentos maiores em caso de titulação. Se considerarmos os 4% dados antes, sendo esses acumulados, teremos quase 30% de reajuste em 3 anos, isso significa a reposição da inflação e mais um pouco a cada ano. Os/as professores/as titulares terão quase 50% de aumento em 3 anos.
Isso é o que entrará em vigor se nada mudar. Esse é o acordo assinado pelo PROIFES (Fórum dos Professores de Instituições Federais do Ensino Superior - sindicato pouco representativo que queria acabar com a greve antes).
Devemos perceber que, apesar de ser bastante ruim, foi a nossa luta que fez com que chegássemos a esses patamares!
Os/as técnicos/as administrativos/as fizeram um acordo de 15% para 3 anos. Tirando os/as militares, os/as professores/as foram os únicos a terem diferenciais em seus acordos.
Repito, isso está longe de ser bom, mas o fato de um governo que queria dar o mínimo não fazer isso, foi por conta da luta! Isso é ganho!
O nosso Sindicato Nacional, o ANDES (Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior - Sindicato Nacional), não assinou a proposta! Nosso Sindicato Local, a ADUFEPE (Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pernambuco), tampouco!
Não há nada disso de que "estamos amarrados ou presos por 3 anos". Não houve acordo ainda.
Obviamente isso se deu pela intransigência do governo, sua truculência, falta de negociação, entre tantos outros adjetivos que ficamos familiarizados nessa luta.
Mas e o fim da greve? Pois bem. Acabou sem acordo. O acordo assinado pelo PROIFES se estenderá a todos/as caso nada mude. Mas pode mudar. O Comando Nacional de Greve e a Direção do ANDES está orientando a continuação da luta em outros "front".
O projeto de lei foi para o Congresso e nosso Sindicato (Nacional e Local) está mobilizado para pressionar e debater com Deputados e Senadores. Essa é a primeira ação.
O segundo é o "alerta ligado". As Universidades continuarão os debates e, se preciso, com paralisações. Fizemos algumas antes da greve e podemos fazer outras, locais e nacionais.
Resumindo, a luta ainda está acontecendo e deve ser levada, de uma outra forma agora.
E por que o fim da greve nessa Assembleia do dia 05/09?
A UNB já tinha saído da greve, a UFRJ também. Fora essas duas a UFPE fica sendo a maior representação sindical.
O Comando Nacional de Greve Estudantil foi dissolvido, a FASUBRA (Federação de Sindicatos de Trabalhadores em Educação das Universidades Brasileiras) já havia saído da greve e o SINASEFE (Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica) havia indicado o dia 10/09 para sua saída.
O Comando Nacional de Greve apontou a saída (apontou a SUSPENSÃO UNIFICADA) e a UFPE decidiu não sair no mesmo dia,(no dia 05) mas ter um tempo para que outras ADs pudessem sair em bloco (por isso decidiu pelo dia 17).
Não é uma correria do pelotão, mas um recuo da tropa toda. A retirada de uma batalha, para se refazer, rediscutir estratégias e perseverar.
Com a saída das duas maiores e mais outras tantas, o caráter nacional da greve já havia se partido. O projeto de lei já havia sido enviado pelo governo ao congresso e por conta disso não havia mais nenhuma possibilidade de pressão sobre o governo.
Sair de cabeça erguida, com disposição para permanecer na luta, é mais um ganho político. Saber que a luta da greve nos motivou, mobilizou e nos uniu.
Vi criticas e posicionamentos diferentes, eu respeito. Mas, por favor, vamos ter consciência de quem ouvimos e do que levamos em conta. Ter opiniões diferentes é uma coisa, ter opinião sem parâmetro é outra.
Vejam só, durante a Assembleia em que a greve foi encerrada, estava acontecendo o JUBRA (Simpósio Internacional da Juventude Brasileira), que ocupou os auditórios diversos da UFPE, restando o CTG (Centro de Tecnologia e Geociências) ou a Concha Acústica (que é ao ar livre), a Assembleia foi a tarde, as 14h. Que auditório deveria ser escolhido?
O local para a realização da mesma foi debatido no Comando Local de Greve, que é quem toma as decisões para tanto. Não foi inventado de última hora ou feito às escuras. Qual seria a decisão a ser tomada? Dizer que a escolha foi manipulação? Por que? O CTG faz parte da Universidade, por que ter medo de lá?
Sobre o Comando Local de Greve, do qual participei intensamente, éramos no máximo 20 pessoas, em dias de reuniões lotadas, tendo reuniões com 3 ou 4 pessoas. Onde estavam todos/as os/as professores/as em greve?
Ao sair do auditório do CTG eu ouvi umas pessoas falando que quem tinha acabado com a greve eram os/as professores/as que estavam nos seus gabinetes e nunca participavam de nada. Pois bem, isso é direito deles/as, mas, vamos adiante.
A greve foi deflagrada com 221 votos. Onde estavam os/as 201 professores/as (descontando os/as 20 do Comando Local) grevistas durante TODA a greve? Podem procurar saber, além de Assembleias, não houve adesão de colegas para a AÇÃO! Confiram nas fotos das ações no site da ADUFEPE, vocês todos/as verão como as pessoas se repetem sempre. Ou seja, alguns/as poucos/as carregaram todas as ações da greve nas costas.
Os/as professores/as que votavam pela continuidade da greve exerciam o mesmo direito dos/as outros/as, mas em uma direção diferente.
Outro argumento é que, em greve, os/as professores/as podiam participar de atos e podiam pressionar sem se preocupar com aulas ou outras coisas. Sinceramente, eu estou na luta muito antes da greve. Sou sindicalizado e atuante e não vai ser por estar na sala de aula que vou deixar de lutar. A greve foi uma forma de luta e não abandonarei as outras. Conheço muitos/as como eu. Infelizmente esses/as "muitos/as" ainda são uma minoria.
Acredito sim que a greve foi vitoriosa e que saímos na hora certa e de cabeça erguida! Foi a maior Assembleia da história do nosso Sindicato!
Não dá pra considerar argumentação de gente que não participou de quase nada, que não sabe como estava o contexto da Greve Nacional e que, em muitos casos, queria a greve até o ano que vem ou mais, por qualquer motivo.
Nossa luta, nossa atuação política e nossa resistência não se resumem a greve. É isso.
Satisfação.